terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Peixes Venenosos

Famoso pela produção de soro contra picada de cobras, aranhas e escorpiões, o Instituto Butantã, vinculado à Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, começa a explorar também o mundo aquático, para buscar uma maneira de neutralizar o veneno de peixes peçonhentos (aqueles que, além da glândula do veneno, têm um aparato inoculador, no caso, espinhos). Os estudos tiveram como ponto de partida o Thalassophryne nattereri, um peixe comum nas regiões Norte e Nordeste do País, conhecido como niquim, ou peixe-sapo, que vive em águas salobras (encontro de mar com rio).
Hoje, as pesquisas também abrangem o bagre (animal marinho e de água doce) e o peixe-escorpião (marinho), presentes em quase todas as regiões do Brasil, e a arraia (marinho e de água doce), comum na região norte. A produção de um único soro para neutralizar o veneno de todos esses peixes é uma das possibilidades em verificação.
Os estudos sobre peixes peçonhentos colocam o Brasil entre os pioneiros no tema. Em todo o mundo, apenas a Austrália desenvolve soro para veneno de peixe. Lá, os acidentes causados pelo stone-fish (peixe-pedra), do mesmo gênero do peixe-escorpião, comum no Oceano Índico, são tratados com soro.
A previsão é que o soro leve cerca de um ano para começar a ser usado em clínicas. Isso porque ele depende da avaliação e da autorização de um comitê médico. E precisará de mais dois anos para se tornar um soro comercial.
De acordo com a bióloga Mônica Lopes Ferreira, que coordena os estudos sobre peixes peçonhentos no Butantã, embora os peixes sejam de espécies diferentes, o soro para o niquim também se mostrou eficiente contra os efeitos causados pelo Thalassophryne maculosa.
O niquim vive principalmente em águas salobras, comum em regiões onde há encontro de águas marítimas e fluviais. Tem aproximadamente 15 cm de comprimento, é mais largo na altura das nadadeiras peitorais, mais fino na parte de trás e não tem escamas, mas é coberto por muco. Costuma enterrar parte do corpo na areia, em águas rasas e é bastante resistente. Chega a ficar de 8 a 12 horas fora da água.
Por sua coloração acinzentada, é comum ser confundido com a areia. Possui dois espinhos na região dorsal e um em cada lateral, recobertos por uma glândula de veneno. Esses espinhos são vazados e, quando o peixe sofre pressão, como no momento em que é pisado por um pescador, a glândula desce e o veneno é liberado pelo espinho. “É como se ele aplicasse uma injeção”, diz Mônica.
A gravidade do ferimento varia de acordo com a quantidade de veneno liberada. Além de fortes dores, causa edemas, bolhas e até necroses no membro atingido.
Bagre é o peixe que mais causa acidentes
Segundo a pesquisadora, a maior incidência de acidentes com peixes peçonhentos no Brasil se dá com o bagre. Comestível e comum no Brasil, o bagre causa acidentes principalmente em pescadores. Os ferimentos, porém, são mais leves que os causados pelo niquim. Causam muita dor e edemas, mas não chegam a provocar necroses.
Já as arraias são bastante perigosas. Comuns tanto em águas pluviais quanto marinhas no Nordeste brasileiro, as arraias têm um ferrão na cauda capaz de provocar edemas, hemorragias e necroses. “Se não tivesse o veneno, a arraia já causaria ferimentos graves”, diz a pesquisadora.
Isso porque o animal, quando se sente ameaçado, usa a cauda, que é como um chicote, grande e serrilhado, causando cortes semelhantes aos de uma faca. “Esse quadro se agrava com a presença do veneno”, explica Mônica Lopes Ferreira.
Peixe-escorpião pode levar à morte
Considerado o pior dos peixes peçonhentos, o peixe-escorpião é capaz até de levar à morte. Isso porque além dos ferimentos locais, também pode causar efeitos sistêmicos, ou seja, afetar coração, pulmão e rins. A gravidade do acidente depende da quantidade de veneno inoculada.
Cada espinho libera grande quantidade de veneno, e os ferimentos com mais de três espinhos são considerados muito graves. Podem causar taquicardia, dispnéia (dificuldade de respiração), convulsões e morte.

Fonte: Nippo Brasil
 

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